OLHAR SEM VER - Um texto de A.S




Tenho uma pergunta para fazer. Quando passas por mim, consegues ver-me?

É difícil responder a esta questão, até podes dizer que me vês mas eu só te vejo a olhar. Que sabes tu de mim? Que te dizem os meus olhos?

Pois é, dou por mim a pensar inúmeras vezes nesta questão. Levanto-me todos os dias muito cedo e assim que saio de casa tento abrir os olhos ao Mundo. Vou ainda a combater o cansaço do dia anterior, de uma noite mal dormida ou de um convívio mais tardio com amigos ou comigo mesma, mas esforço-me para ver o que me rodeia.

Quem se desloca em transportes públicos como eu, sabe o que é chegar à paragem e perceber se o autocarro já passou só pelo simples facto de não ver as pessoas do costume. Essas pessoas levantam cedo como eu, quando eu chego sorriem e dão-me os bons dias, assim como eu faço com elas…mesmo quando não me apetece sorrir.

É nessas alturas que eu penso…assim como não tenho vontade de sorrir elas podem sentir o mesmo. Que sei eu da vida delas? Ir todos os dias no mesmo autocarro, não me dá o direito de julgar se um dia chegar e não tiver um sorriso.

Olhamos uns para os outros mas não vemos.

Não vemos porque é fácil sermos enganados por um falso bem-estar. Eu também sorrio muitas vezes quando por dentro acordei com vontade de chorar. A decisão é minha, escolho continuar a sorrir porque ninguém tem de suportar a minha tristeza e muitas vezes estão a precisar mais de um sorriso do que eu.

Eu olho e tento ver, não gosto de olhar por olhar.
A.S
      

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